sábado, 27 de abril de 2013

A Sacerdotisa e o Louco

"Minha Juliana, minha Sacerdotisa, 

Nos assustamos com o amor, deveríamos nos assustar com a indiferença

Mas é o amor que tememos, como se não fosse possível, como se fosse um engano, como se fosse o endereço trocado.

"Não pode ser verdade" é o que sussurramos para o batimento. 

"Não há ninguém aqui dentro" é o que respondemos para as batidas na porta. 

Nos acostumamos a não receber o amor. A não acreditar no amor. A escondê-lo entre as cartas e fotos das gavetas. 

Nos conformamos com o pouco para não sofrer em esperar. Nos restringimos às sobras para não adoecer de expectativa. 

Diminuímos a esperança para não exigir. Reduzimos nosso apetite para não morrer de fome. 

Éramos intensos, passionais demais para o passado. Éramos exagerados, sentimentais demais para os outros. 

Éramos aflitos, desesperados demais para as regras. Amávamos mais do que o recomendável.

Sempre pensamos que carregávamos um erro, que o problema estava em extrapolar a medida, que a grande falha consistia em ser transparente, em querer casar e viver com alguém até depois de viver.

Quando nos encontramos, foi o equivalente a sair do manicômio, a fugir do hospital, a voltar para a própria cidade de nascença. 

Entre nós, não há estranheza, não há mendicância, não há solidão do sonho. 

Amar você não tem tamanho. Não temo falar o que desejo. 

Seus olhos crescem nos meus. Suas palavras me devolvem a voz. 

Nossa pele floresceu."




Quando li esse texto, soube exatamente do que o Fabrício tava falando.

Sei como é se sentir a personificação do exagero. Estar errada, ser errada por amar demais, por demonstrar o que sente ao invés de participar dos joguetes pisa-que-ele(a)-gruda-gruda-que-ele(a)-pisa da vida. Pagar o preço por ser intensa e querer - e cobrar! - intensidade de volta. Se contentar com migalha "pra não morrer de fome".

Infelizmente, meu momento de sair do manicômio ainda não chegou. E nem sei se vai chegar. Mas fiquei feliz por saber que mais gente se sente assim, e que encontra quem também se sente assim, e juntos vivem toda a loucura, o excesso, a intensidade de amar que tanto prego por aí e quefaz com que os outros me olhem com deboche/descrença/pena.

Mais uma vez, Fabrício Carpinejar escreveu um texto que exprime exatamente como me senti e sinto. Texto que me deu a oportunidade de, brevemente, durante a leitura, experimentar a sensação libertadora de encontrar alguém tão intensamente louco quanto eu.

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