terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ah, se eu soubesse...

"...Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole outra vez
Não dava mole à tua pessoa
Te abandonava prostrado a meus pés
Fugia nos braços de um outro rapaz
Mas acontece que eu sorri para ti
E aí larari larara lariri, lariri
...
"


Devia estar resumindo "Ética a Nicômaco" pra aula de Filosofia do Direito. Mas acontece que eu ouvi essa música e aí larari larara lariri...♥

"Jeremiah was a bullfrog...


...Was a good friend of mine
I never understood a single word he said
But I helped him a-drink his wine
And he always had some mighty fine wine..."


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Atualizações da versão 2.8

Pensei em um monte de coisa pra escrever aqui, mas nenhuma me agradou. É aquele bloqueio básico de volta, junto com a insônia e a gastrite. E essa spleen sobre a qual falava o poeta, que atualmente é conhecida simplesmente como "bode", podendo dar lugar a um anglicismo besta, tipo "não tô no mood".
Sobrevivi aos 27 anos, tenho quem goste de mim, meus 12 gatos estão bem, tenho dinheiro, um projeto de pesquisa com bolsa CNPq e um Vade Mecum da Saraiva. Ah, hoje comprei aquele livro do Beccaria também, "Dos delitos e das penas". Mas...
E, antes que entremos no "Mas...", eu lembro que tenho é que esquecer do que me aborrece/emputece/entristece, pensar no que tá rolando de bom e no que ainda está por vir e let it be. O que vem depois da porra do "Mas..." é consequência das minhas burrices e é fácil resolver. É só parar. Como eu vi num filme ou seriado looong time ago: o cara pra exemplificar como se resolve esse tipo de coisa [coisa que não expliquei o que é que não vem ao caso] contava a piada de um cara que ia ao médico e dizia: "Doutor, toda vez que faço assim, dói". E o médico respondia, "Ora, então não faça". Sendo assim, deixemos guardadinho o que viria depois desse "Mas...", aproveitemos esse friozinho bom pra ficar debaixo das nossas 789 cobertas com nosso amigo Beccaria e esperemos Morfeu ao som de Strokes:


"[...] Sit me down
Shut me up
I'll calm down
And I'll get along with you [...]"
 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta
.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a lhe desejar.

Victor Hugo                                     

Achou parecido com alguma música? Aposto que foi essa daqui ;)


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Back to Black

"This ache in my chest...As my day is done now...The dark covers me and I cannot run now..." E depois, quando vem o refrão, os olhos da gente marejam enquanto ela diz resignada e triste "And I wake up alone". Pra mim, foi como ter viajado no tempo, voltado pra era de ouro da Motown, estar ouvindo Sarah Vaughan. É soul. TEM soul. E quando vi a foto, não acreditei. "Mas ela é branca!" e lembrei da Janis, branca com alma negra, swing negro, "black soul". Conheci Amy Winehouse.
Ouvi "Back to Black" inteirinho depois que a Ana me mostrou "Wake up Alone". Na minha cabeça vinha aquele disco da Alanis Morissette "Jagged Little Pill", que causou burburinho por ser extremamente autobiográfico, por causa daquela música que ela fez pro ex. "Back to Black" é assim. "The rise and fall of...", saca? Tem história ali que você sabe que ninguém seria capaz de escrever e cantar senão tivesse sentido na pele. Tipo, "Não vou pra Rehab porque You Know I'm no Good and Me and Mr. Jones não podemos ser Just Friends, então I'm Back to Black porque Love is a Losing Game e I Wake up Alone mas My Tears Dry on their Own", e por aí vai. Por esse álbum, Amy foi indicada a seis Grammy, dos quais ganhou cinco. Aí já viu: a máquina de moer gente chamada SUCESSO foi ligada.
 
Amy amava Blake. Tinha o nome dele tatuado no peito e tudo. Sabe quando a gente tá apaixonado e só fala na pessoa? Ela era assim: a única entrevista que li dela foi decepcionante, ela não concatenava as idéias, mal formava frases. Era all about Blake. Já era de se esperar, afinal o "Back to Black" é sobre a história dela com o Blake.
Então Amy e Blake terminam. De novo. Na verdade, nem a mídia sensacionalista (redundante?) consegue mais acompanhar e dizer quando eles estão juntos ou separados. E Amy despenca. É vista correndo de sutiã, chorando na rua, com a nariz branco de cocaína. Cai na saída do pub e perde alguns dentes. Fuma crack na balada. Amy definha. Os shows são catastróficos. A família começa a se manifestar publicamente, falando que a filha está com os dias contados. Amy vai pra Rehab. No, no, no. Já saiu. Está namorando. Quer ter filhos. Vai fazer turnê. Quando anunciaram os shows da turnê aqui no Brasil, Ana e eu não nos empolgamos. Os ingressos eram caríssimos, ia rolar a famigerada área VIP e, pelo restropecto de apresentações da cantora, resolvemos não arriscar. Quando a ouvi pela primeira vez não imaginava que ia dizer isso, mas a realidade agora era outra: corria-se o risco de jogar dinheiro fora. As apresentações foram ruins, mas nada comparado ao que veio depois. Na Sérvia o bicho pegou e ela saiu vaiadíssima. Nem terminou o show. E resolveu interromper as apresentações, dar um tempo.

Sábado, 23 de julho, Amy morreu. Tinha 27 anos. Não demorou pra que começassem a falar um monte de bobagens: teorias conspiratórias, campanhas anti-drogas e aquela coisa toda de "que Amy sirva de exemplo!" e blah blah fucking blah. Sim, ela era doente e precisava de ajuda. Mas como o André Barcinski falou em seu blog, não é fácil prum artista se retirar de cena pra se tratar quando tanta gente depende direta e indiretamente do trabalho dele. E, infelizmente, o que nos restou foi ver Amy se autodestruindo, sentindo tudo e tanto e tão forte até não sentir mais nada. Como uma estrela que se consome em sua própria energia e entra em colapso, deixando só seu brilho pra admirarmos atônitos, sem pensar em quão mórbido é esse espetáculo chamado "Fim". A supernova do soul explodindo no meu quarto quando ligo o som no talo pra ouvir "I Heard Love is Blind" ou "Fuck me Pumps". E justo ela que cantava tão lindamente "I can't help you if you doooon't help yourseeeelf..." se deixou levar pelo que chamaram de sensação de "falso poder e controle efêmero" das drogas. Começa a usar pra calar o coração e a dependência passa a ser física. Usa pra calar o coração e parar a tremedeira. Usa pra relaxar. Pra ter paz. Pra não pensar, não sofrer, não sentir, quando era esse sentir que falava através do seu dom.

"Morrer é radical demais, silencioso demais, vazio demais" como disse a Zélia Duncan. Fora a sensação de "The dream is over" que fica, como quando o disco acaba e o display zera. Seus 27 anos em 27 minutos e Amy não chegaria viva ao fim da nona faixa de "Back to Black". Mas vendo o mundo como um palco (e não é?), a vida da Amy foi um daqueles shows em que o começo é morno mas o fim surpreendente: ela cantou as favoritas do público mas muitas vezes se recusou a seguir o setlist. Foi aplaudida e vaiada. As luzes se apagaram e acenderam diversas vezes naquelas saídas de cena que são só fingimento. Até que ela simplesmente saiu. E foi embora sem dar bis.


*Crédito das imagens: Terry Richardson's Diary

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sunday moody sunday

Domingo de sol e você chegou mais cedo do que eu esperava. De mochila e skate, o que me alegrou mais ainda: sinal de que você veio pra passar o dia e a noite comigo. 

Vem que vou te apresentar pros meus gatos: esse aqui é o Gizmo. É, ele não é muito sociável. Essa daí? Eu chamo ela de Chata porque ela parece com uma gata que eu tinha que se chamava Chata, e porque ela morde as mãos da gente quando quer carinho nas bochechas. Aquele ali é o meu gato preto que a gente chama de "Mofo". Don't ask. Essa é a mais velha da casa e a felina-dos-olhos da família. Acho que ela gostou de você. É, são muitos. Tão aproveitando o solzinho morno do inverno. Meu quintal é o mais lindo do mundo com tanto gato espreguiçando. 
Mas vem, vem entrando. Vâmo lá pra cima. Deixa a mochila e o skate no meu quarto, a gente vai pro parque depois do almoço. Minha mãe fez lasanha e eu comprei daquela cerveja que você gosta. Ali é o quarto da minha irmã, aqui o banheiro e aqui é o meu quarto. Legal, né? Maior que o seu, e sem aqueles posters do Iron e do Cobain. Quer ouvir o quê? AC/DC? Vâmo ouvir Stones? Hoje o dia tá com cara de Stones. Não, não. Tá com cara de Beatles, com esse sol, esse céu e todo esse clima de "I wanna hold your hand". Ó meu ingresso do show do Paul. Foi foda lindo esse dia, nunca vou esquecer. Faltou você lá. É, tem livro pra caralho aqui. Vê aí se tem algum que você queira emprestado. Livro, DVD, CD...Só escolher. Se eu li todos? Todo mundo me pergunta isso. Li a maioria. Só não li as enciclopédias e dicionários, óbvio. 
Pega esse do Van Gogh e traz aqui pra cama. Pega essas HQs do Manara e do Alan Moore também. Van Gogh é um dos meus artistas favoritos. Olha esse quadro: "Starry Night". Numa noite estrelada, se eu tiro os óculos e olho pro céu, vejo as estrelas assim, sabia? E diziam que ele era louco...Ele só via as coisas de um jeito diferente. Acho que todo louco é assim. Deve ser chato ser normal então. "V for Vendetta" eu vi o filme também. Bem bacana, mas prefiro a HQ. Esse "Revolução" do Manara também é bem legal. Ninguém desenha mulher melhor que ele, são todas lindas, né? Vâmo almoçar? [...]
Ih, os shows começaram meio-dia. Já era. Onde é a pista de skate? Ah, não sabia que aqui não tinha. Tem no outro parque, mas tá em obras. Quer brincar vai pro playground ali, ó. Quero cerveja. É, eu vi a tiazinha com o cabelo moita armadíssimo viajando no som do Creedence. Éééé, eu vi que o all-star dela é igual ao meu. "É você amanhã" o cacete. Pára de rir. Ah, ainda vai ter mais duas bandas, não demos viagem perdida então.


Não precisa bancar meu guarda-costas dessa vez porque o bate-cabeça tá rolando só lá na frente. Quer ir? Eu fico aqui com minha irmã. Não conheço nada do Iron...Que música é essa? Ahn. [...]
Vâmo comprar uma pizza pro jantar? Duas, a outra - de brigadeiro - vai ser a sobremesa. Ai, olha um gatinho! É gatinha, porque tem três cores. Deixa eu levar pra casa? Tsc, como vocês são chatos. Tadinha da gatinha. [...]
Liga o pc e vai passando os vídeos e as fotos enquanto eu tomo um banho. Melhor, vem tomar banho comigo. Minha mãe fez sua cama na sala. Vâmo jogar videogame ou ver filme? Não, isso aí a gente só pode fazer quando todo mundo for dormir, besta. A gente assiste esse do Monty Python então. [...]
O dia tá amanhecendo, melhor você ir pra cama que minha mãe fez pra você. Não vai embora sem se despedir de mim. Também te amo. Precisa ir embora tão cedo? Fica pro almoço! Tá bom, vai. Eu vou com você até o ponto de ônibus. A gente podia fazer isso mais vezes, tipo todo fim de semana. Ah é. Esqueci.
 
Domingo de sol e como eu esperava você não apareceu. Não mandou mensagem, não ligou. Perdeu o quintal mais lindo do mundo, a lasanha, a cerveja. Os livros, CDs, DVDs e o show no parque. A pizza, o banho, o filme. A mim.

sábado, 23 de julho de 2011

Agrado

Aula sobre autenticidade:


"Una es más auténtica cuanto más se parece a lo que ha soñado de si misma."

Personagem "Agrado", vivida pela atriz Antonia San Juan no filme "Todo sobre mi madre", de Pedro Almodóvar. Já havia citado essa frase aqui no blog, quando tentei responder à pergunta "Quem sou eu?", proposta numa das aulas de Filosofia. Esse conceito de autenticidade mexeu comigo desde a primeira vez que vi esse filme. Afinal, se você se parece com o que sonha de si mesmo, você é de verdade, você é autêntico. Você não é o que os outros veem, ou aquela imagem que você cultiva cuidadosamente todos os dias, preocupado em fazer com que pensem de você aquilo que você quer que pensem. Por isso acredito, complementando o que a Agrado diz, que autenticidade não é só essa imagem sonhada de nós mesmos. É também o quanto dessa imagem conseguimos exteriorizar. É fazer com que todos vejam por fora o que a gente vê por dentro, na nossa cabeça. Aí sim, quando a realidade do outro for a mesma que eu sonhei de mim, serei completamente autêntica.