"As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos.
Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.
Os homens não querem alcançar essas boas,
porque eles têm medo de cair e se machucar.
Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão,
que não são boas como as do topo,
mas são fáceis de se conseguir.
Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas,
quando na verdade, ELES estão errados...
Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar,
aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore."
Joga no Google "Mulheres do topo da árvore". Viu quantos resultados? Pois é. E pode clicar em cada um deles que o autor a quem atribuem tamanha asneira continuará sendo o mesmo: Machado de Assis.
Mas repare que em lugar nenhum (acreditem, eu vasculhei cada um desses sites!), NENHUM!, cita-se a obra em que tal bobagem está. Até que no Wikiquote encontrei citação com o nome da obra de onde supostamente saiu essa babaquice: o conto "Almas Agradecidas".
Beleza, vamos checar. Primeiro: o tal conto existe? Sim. É do Machado? É. Conto avulso, de 1871, tá aqui.
Agora vamos procurar no conto ao menos um trecho que seja desse besteirol, talvez o precursor da idéia da mulher-fruta. NADA, cara. NEM SINAL.
O conto é muito legal, assim como tudo que o "Bruxo do Cosme Velho" escreveu. Meu escritor favorito desde os tempos de Ensino Médio, devorei cada romance, cada conto dele. Como não me recordava de já ter lido este, li. Narra a história de dois amigos, Oliveira e Magalhães, que se apaixonam pela mesma mulher. Na verdade, o apaixonado era o Oliveira, mas o Magalhães, que a gente saca desde o começo que é um daqueles caras espertos, que conquistam todo mundo com lábia e simpatia, dá uma rasteira básica no amigo otário e fica com a donzela. Detalhe: a amizade dos dois continua firme e forte, mesmo quando o Magalhães casa com a moça ("Foram amigos até à morte, posto que Oliveira não freqüentasse a casa de Magalhães").
Voltando à história lá das mulheres do topo da árvore, o que me deixou besta foi a criatividade de quem escreveu isso pegando emprestada uma idéia do Machado expressa nesse conto do Magalhães e do Oliveira. O mais próximo que Machado de Assis fala de mulheres fáceis no texto é no seguinte trecho:
Mas repare que em lugar nenhum (acreditem, eu vasculhei cada um desses sites!), NENHUM!, cita-se a obra em que tal bobagem está. Até que no Wikiquote encontrei citação com o nome da obra de onde supostamente saiu essa babaquice: o conto "Almas Agradecidas".
Beleza, vamos checar. Primeiro: o tal conto existe? Sim. É do Machado? É. Conto avulso, de 1871, tá aqui.
Agora vamos procurar no conto ao menos um trecho que seja desse besteirol, talvez o precursor da idéia da mulher-fruta. NADA, cara. NEM SINAL.
O conto é muito legal, assim como tudo que o "Bruxo do Cosme Velho" escreveu. Meu escritor favorito desde os tempos de Ensino Médio, devorei cada romance, cada conto dele. Como não me recordava de já ter lido este, li. Narra a história de dois amigos, Oliveira e Magalhães, que se apaixonam pela mesma mulher. Na verdade, o apaixonado era o Oliveira, mas o Magalhães, que a gente saca desde o começo que é um daqueles caras espertos, que conquistam todo mundo com lábia e simpatia, dá uma rasteira básica no amigo otário e fica com a donzela. Detalhe: a amizade dos dois continua firme e forte, mesmo quando o Magalhães casa com a moça ("Foram amigos até à morte, posto que Oliveira não freqüentasse a casa de Magalhães").
Voltando à história lá das mulheres do topo da árvore, o que me deixou besta foi a criatividade de quem escreveu isso pegando emprestada uma idéia do Machado expressa nesse conto do Magalhães e do Oliveira. O mais próximo que Machado de Assis fala de mulheres fáceis no texto é no seguinte trecho:
"[...] Oliveira nenhuma demonstração dera até ali à moça, que se conservava ignorante do que se passava dentro dele; e se assim praticava, era por um excesso de timidez, fruto de suas proezas com mulheres de outra classe.
Nada intimida mais a um conquistador de mulheres fáceis do que a ignorância e a inocência de uma donzela de dezessete anos."
Oliveira mantinha seu amor em segredo por não saber lidar com outra classe de mulheres que não as fáceis. Tinha medo da reação da moça, não sabia o que esperar. A tal moça, Cecília, tinha dezessete anos, era inexperiente ("ignorância e inocência") e desconhecia as intenções do cara. Acreditem: conferi cada conto, cada romance do Machado e não encontrei nada parecido com "As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos". E a criatividade torta da pessoa que escreveu toda essa baboseira de mulher-maçã tem o seu momento de brilhantismo justamente nessa frase, afinal, o atrevimento do Magalhães foi o que garantiu seu final feliz com Cecília, moça jovem, bonita, e de boa família, o que faz dela a maçã do topo da árvore. O Oliveira, poor fella, era covarde demais pra escalar a macieira, pois passou tanto tempo pegando as maçãs caídas pra evitar a fadiga que só a idéia de levar um tombo já era suficiente pra paralisá-lo de medo. Assim, se fôssemos resumir o conto numa só frase, essa do atrevimento seria uma boa. Mas o(a) autor(a) teve que estragar tudo e se prolongar numa analogia mulheres-são-como-maçãs digna de filosofia de botequim que nem em sonho sairia da cabeça do Machado de Assis. Perdeu excelente oportunidade de ficar calado(a).
Então, você encalhada que gosta de justificar o seu "foreveralonismo" com essa coisa toda de "sou-difícil-e-estou-esperando-o-homem-certo-vir-me-conquistar" pode continuar usando esse textinho besta como argumento. Mas, PLEASE, pare de dizer que é do Machado de Assis. Afinal, mulher tão bem resolvida assim não precisa atribuir citações erroneamente pra fazer valer seu ponto de vista, certo?
Exemplo de citação feita corretamente |
Nenhum comentário:
Postar um comentário