segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The dream is over

Parece melancolia mas é só Hemingway.
"Coelhinha, não vamos mais para Madri". E as lágrimas rolaram. Sabia! Qué puta es la guerra. Que putos são os finais infelizes.
Não entendo de guerra e espero nunca entender, mas se tem uma coisa da qual eu manjo é de plano feito pra não dar certo, pra sequer ser posto em prática, aquelas coisas com as quais a gente devaneia numa tarde quente e vadia como a de hoje.
Que um dia ele viria conhecer sua casa, que um dia ela conheceria seus dotes culinários, que no futuro vocês falariam de Van Gogh e Guy Ritchie e de blues, tomando cerveja e fazendo mais planos como se houvesse um futuro a ser compartilhado.
Robert Jordan sabia que a probabilidade de não haver um futuro era grande quando conheceu Maria, mas mesmo assim se apaixonou por ela. Essas coisas a gente não planeja. Mas o DEPOIS da missão, o hotel em Madri, o restaurante, os passeios que fariam, as roupas que compraria pra ela, o penteado a la Greta Garbo que ela usaria para o agradar...Não, coelhinha, não vamos mais a Madri. E é injusto, sabe? É injusto pra quem fica. Pra quem nem tava pensando em tardes vadias, hotéis madrilenhos, Garbo e restaurantes, cerveja e whisky, e de repente, se vê sonhando acordado com tudo isso, e adicionando mais detalhes, mais cores no quadro, até que tudo fica tão perfeito, tão a cara dos dois, que se torna palpável, quase real. QUASE. Até o outro acordar, te pegar pelos ombros, olhar nos seus olhos e dizer "Nós não vamos mais, você precisa continuar sem mim".
E se continua, embora se olhe pra trás once in a while, como fez Maria, amparada por Pablo e Pilar, com olhos marejados e vontade de ficar. "Você tem que ir porque onde você estiver, eu vou estar".
Um pouco de Robert Jordan sobreviveu em Maria, mas um pouco de Maria morreu com Jordan. E embora ambos tenham vivido intensamente os poucos dias que tiveram juntos em meio a guerra civil espanhola, o começo do fim não foi o arrebatamento do amor à primeira vista, ou a sensação de o chão se mover em meio ao êxtase do sexo. Foi na última noite juntos, compartilhando o saco de dormir, as atrocidades da guerra e os planos pruma vida fora dali que nunca iriam se concretizar.
Um pouco de nós morre com os sonhos a dois que se desfazem, embora os sonhos mortos dêem lugar a "sonhos de carreira solo", com cores berrantes ou suaves, cenários simples ou pomposos. Mas um pouco do outro fica com a gente onde quer que a gente vá. Talvez só até o fim da guerra, talvez pra sempre. Pra alguns, um fardo. Pra outros, uma lição.
"Não iremos para Madri agora, mas vou estar sempre contigo". Ela sabe que sim, e é isso que torna tudo pior. Os destinos que haviam se cruzado, se separam. Mais um tempo e ambos se verão no estado de antes. Robert Jordan, Maria, eu, você, todos nós, juntando os pedaços, os sonhos, as lembranças e começando tudo de novo. Qué puta es la vida.

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