quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um Começo...

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.
 Assim começa "Cem Anos de Solidão", do Gabriel García Márquez. Sempre dei muita importância pra começos, e os dos livros dele são os melhores. Impossível parar de ler. Apesar de tentar ensinar como se conta uma história no livro "Como se conta um conto", esse tipo de coisa, como se fazer ESSE tipo de começo, não se ensina. E, se é verdade que grandes escritores já sabem do fim de suas histórias quando escrevem o primeiro parágrafo, esse começo só faz com que eu tenha mais certeza de que certas pessoas nascem pra fazer o que fazem.

...e um Fim

[...]Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer. E eu fiz o que Ele me criou para fazer. Não quero entender nada. Quero acreditar, mas não posso ter certeza, não se pode ter certeza de nada, que Deus me terá em Sua Glória e sei que Ele agora está rindo.
Acredito que todo mundo, pelo menos uma vez, já passou por isso: terminar um livro com aquela sensação de "Ué? Acaba aqui...assim?". As vezes não entendemos, outras vezes o livro é que tem final besta mesmo. Fazer o quê? A verdade é que o fim do "A Casa dos Budas Ditosos" do João Ubaldo Ribeiro é um dos fins mais "Fim", assim com maiúscula, que conheço. E um dos que mais gosto. Porque é assim que acaba mesmo. Com o NOSSO fim, com a morte. E com toda a dúvida que vem com ela. E não se pode mesmo ter certeza de nada, a não ser de que esse momento chega pra todos. Fim não é pra ser triste, melancólico, ou pra dar lição de moral. O fim, junto com o começo, é o que faz tudo no meio fazer sentido. E não é do meio que a gente vai se lembrar pra sempre?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Uma seleção de futebol



Campeã em 2006, a deliciosa seleção italiana foi eliminada na 1ª fase da Copa do Mundo da África. Apáticos em campo, só deixaram pra reagir no 2º tempo, quando já estava 2 x 0 pra seleção da Eslováquia. Quando marcaram o 1º gol e estavam atrás do empate (com direito a gol mal anulado, um "quase-gol" salvo embaixo do travessão por um jogador eslovaco e tudo), tomaram o 3º. Ainda descontaram, mas não deu tempo. A equipe mais bonita do futebol voltou pra casa mais cedo. Gattuso e Cannavaro, dois da foto acima, já disseram que vão se aposentar. É esperar pra ver quem vem ao Brasil na Copa de 2014. E torcer, sei lá, pra Espanha, dos tesudinhos Xabi Alonso e Fernando Torres.


domingo, 20 de junho de 2010

Um soneto

"É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro.

Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro.

À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um U;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu."

Bocage