quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Empty Walls

Não curto muito System of a Down e tava completamente por fora da carreira solo do vocalista deles, o Serj Tankian. Vi o show deles no Rock in Rio e curti bastante, mas sempre admirei a banda (ou o Serj) pelo engajamento político presente nas letras.
O vídeo de "Empty Walls" é autoexplicativo: o ataque às torres gêmeas, a invasão do Iraque, a queda do Saddam Hussein, a prisão de civis, tortura, morte. Encenado por crianças. Fazia tempo que um clipe não me arrepiava desse jeito.

"Don't waste your time,
On coffins today...
"
"Empty Walls" é faixa do álbum "Elect the Dead", de 2007. 


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The dream is over

Parece melancolia mas é só Hemingway.
"Coelhinha, não vamos mais para Madri". E as lágrimas rolaram. Sabia! Qué puta es la guerra. Que putos são os finais infelizes.
Não entendo de guerra e espero nunca entender, mas se tem uma coisa da qual eu manjo é de plano feito pra não dar certo, pra sequer ser posto em prática, aquelas coisas com as quais a gente devaneia numa tarde quente e vadia como a de hoje.
Que um dia ele viria conhecer sua casa, que um dia ela conheceria seus dotes culinários, que no futuro vocês falariam de Van Gogh e Guy Ritchie e de blues, tomando cerveja e fazendo mais planos como se houvesse um futuro a ser compartilhado.
Robert Jordan sabia que a probabilidade de não haver um futuro era grande quando conheceu Maria, mas mesmo assim se apaixonou por ela. Essas coisas a gente não planeja. Mas o DEPOIS da missão, o hotel em Madri, o restaurante, os passeios que fariam, as roupas que compraria pra ela, o penteado a la Greta Garbo que ela usaria para o agradar...Não, coelhinha, não vamos mais a Madri. E é injusto, sabe? É injusto pra quem fica. Pra quem nem tava pensando em tardes vadias, hotéis madrilenhos, Garbo e restaurantes, cerveja e whisky, e de repente, se vê sonhando acordado com tudo isso, e adicionando mais detalhes, mais cores no quadro, até que tudo fica tão perfeito, tão a cara dos dois, que se torna palpável, quase real. QUASE. Até o outro acordar, te pegar pelos ombros, olhar nos seus olhos e dizer "Nós não vamos mais, você precisa continuar sem mim".
E se continua, embora se olhe pra trás once in a while, como fez Maria, amparada por Pablo e Pilar, com olhos marejados e vontade de ficar. "Você tem que ir porque onde você estiver, eu vou estar".
Um pouco de Robert Jordan sobreviveu em Maria, mas um pouco de Maria morreu com Jordan. E embora ambos tenham vivido intensamente os poucos dias que tiveram juntos em meio a guerra civil espanhola, o começo do fim não foi o arrebatamento do amor à primeira vista, ou a sensação de o chão se mover em meio ao êxtase do sexo. Foi na última noite juntos, compartilhando o saco de dormir, as atrocidades da guerra e os planos pruma vida fora dali que nunca iriam se concretizar.
Um pouco de nós morre com os sonhos a dois que se desfazem, embora os sonhos mortos dêem lugar a "sonhos de carreira solo", com cores berrantes ou suaves, cenários simples ou pomposos. Mas um pouco do outro fica com a gente onde quer que a gente vá. Talvez só até o fim da guerra, talvez pra sempre. Pra alguns, um fardo. Pra outros, uma lição.
"Não iremos para Madri agora, mas vou estar sempre contigo". Ela sabe que sim, e é isso que torna tudo pior. Os destinos que haviam se cruzado, se separam. Mais um tempo e ambos se verão no estado de antes. Robert Jordan, Maria, eu, você, todos nós, juntando os pedaços, os sonhos, as lembranças e começando tudo de novo. Qué puta es la vida.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

In my life


"[...] But of all these friends and lovers
There is no one compared with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new
Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life I love you more [...]"

Essa versão do Cash pra uma das minhas músicas favoritas dos Beatles tá no álbum "American IV - The Man Comes Around", lançado em 2002. Cash morreu menos de um ano depois, o que dá pra essas últimas gravações um tom lúgubre, triste.
Nesse álbum, ainda tem "Hurt", "Bridge over troubled water" e uma das mais lindas canções que já ouvi: "The First Time Ever I Saw your Face". Mas essa eu posto aqui outro dia.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Autor (des)conhecido

"As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos.
Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.
Os homens não querem alcançar essas boas,
porque eles têm medo de cair e se machucar.
Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão,
que não são boas como as do topo,
mas são fáceis de se conseguir.
Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas,
quando na verdade, ELES estão errados...
Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar,
aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore.
"
Joga no Google "Mulheres do topo da árvore". Viu quantos resultados? Pois é. E pode clicar em cada um deles que o autor a quem atribuem tamanha asneira continuará sendo o mesmo: Machado de Assis.
Mas repare que em lugar nenhum (acreditem, eu vasculhei cada um desses sites!), NENHUM!, cita-se a obra em que tal bobagem está. Até que no Wikiquote encontrei citação com o nome da obra de onde supostamente saiu essa babaquice: o conto "Almas Agradecidas".
Beleza, vamos checar. Primeiro: o tal conto existe? Sim. É do Machado? É. Conto avulso, de 1871, tá aqui.
Agora vamos procurar no conto ao menos um trecho que seja desse besteirol, talvez o precursor da idéia da mulher-fruta. NADA, cara. NEM SINAL.
O conto é muito legal, assim como tudo que o "Bruxo do Cosme Velho" escreveu. Meu escritor favorito desde os tempos de Ensino Médio, devorei cada romance, cada conto dele. Como não me recordava de já ter lido este, li. Narra a história de dois amigos, Oliveira e Magalhães, que se apaixonam pela mesma mulher. Na verdade, o apaixonado era o Oliveira, mas o Magalhães, que a gente saca desde o começo que é um daqueles caras espertos, que conquistam todo mundo com lábia e simpatia, dá uma rasteira básica no amigo otário e fica com a donzela. Detalhe: a amizade dos dois continua firme e forte, mesmo quando o Magalhães casa com a moça ("Foram amigos até à morte, posto que Oliveira não freqüentasse a casa de Magalhães").
Voltando à história lá das mulheres do topo da árvore, o que me deixou besta foi a criatividade de quem escreveu isso pegando emprestada uma idéia do Machado expressa nesse conto do Magalhães e do Oliveira. O mais próximo que Machado de Assis fala de mulheres fáceis no texto é no seguinte trecho:
 "[...] Oliveira nenhuma demonstração dera até ali à moça, que se conservava ignorante do que se passava dentro dele; e se assim praticava, era por um excesso de timidez, fruto de suas proezas com mulheres de outra classe.
Nada intimida mais a um conquistador de mulheres fáceis do que a ignorância e a inocência de uma donzela de dezessete anos.
"
Oliveira mantinha seu amor em segredo por não saber lidar com outra classe de mulheres que não as fáceis. Tinha medo da reação da moça, não sabia o que esperar. A tal moça, Cecília, tinha dezessete anos, era inexperiente ("ignorância e inocência") e desconhecia as intenções do cara. Acreditem: conferi cada conto, cada romance do Machado e não encontrei nada parecido com "As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos". E a criatividade torta da pessoa que escreveu toda essa baboseira de mulher-maçã tem o seu momento de brilhantismo justamente nessa frase, afinal, o atrevimento do Magalhães foi o que garantiu seu final feliz com Cecília, moça jovem, bonita, e de boa família, o que faz dela a maçã do topo da árvore. O Oliveira, poor fella, era covarde demais pra escalar a macieira, pois passou tanto tempo pegando as maçãs caídas pra evitar a fadiga que só a idéia de levar um tombo já era suficiente pra paralisá-lo de medo. Assim, se fôssemos resumir o conto numa só frase, essa do atrevimento seria uma boa. Mas o(a) autor(a) teve que estragar tudo e se prolongar numa analogia mulheres-são-como-maçãs digna de filosofia de botequim que nem em sonho sairia da cabeça do Machado de Assis. Perdeu excelente oportunidade de ficar calado(a).
Então, você encalhada que gosta de justificar o seu "foreveralonismo" com essa coisa toda de "sou-difícil-e-estou-esperando-o-homem-certo-vir-me-conquistar" pode continuar usando esse textinho besta como argumento. Mas, PLEASE, pare de dizer que é do Machado de Assis. Afinal, mulher tão bem resolvida assim não precisa atribuir citações erroneamente pra fazer valer seu ponto de vista, certo?

Exemplo de citação feita corretamente

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Depois



[...] Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos histórias
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois [...]

Esse disco novo da Marisa Monte tá tão gostoso de ouvir que merece um post com direito à análise faixa a faixa. Vou providenciar. ;-)