sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"To do" list


Difícil. Mas não custa tentar.

Férias frustradas

Tirei férias de mim. Dei um tempo nas músicas tristes, nas conversas fúteis, nas falsas amizades. Dei um tempo também nos filmes ruins, nos livros complexos demais, nos papos-cabeça. Tô ouvindo Jamie Lidell (óóótimo), assistindo filmes do Monty Python e lendo aquele "Comer, rezar, amar". Aí deixo "All I wanna do" no repeat, me imagino flanando em Roma, tomando gelato com algum italiano gostosão, e vez ou outra dou risada sozinha lembrando de alguma piada do "O Sentido da Vida".

Saí temporariamente de mim e fui prum lugar mais chato, mas que não me aporrinha e me dá bem menos trabalho do que sobreviver em mim. Sem toda aquela tempestade de sentimentos, sem choro copioso mas também sem gargalhada escandalosa, sem muitas mentiras mas com poucas verdades, com muito chocolate mas sem novidades (coisa que nunca foi meu forte mesmo). Tá sendo mais ou menos como morar numa cidade grande e agitada - em que nunca se consegue viver o meio-termo das coisas, o custo de vida é alto, as expectativas frustradas e o lifestyle é divertido porém exaustivo - e ir passar férias numa humilde choupana no meio do nada, comendo e bebendo o que gosta, lendo/ouvindo/assistindo o que quer e indo dormir sempre que tem vontade, o que é quase o tempo todo.

Quando algumas pessoas insistem em falar comigo com o pretexto de quererem saber como estou (e na verdade querendo que eu saiba como ELAS estão), finjo prestar atenção, opino, mostro indignação/espanto/alegria - "quiiibom" - até elas desistirem e me deixarem voltar pras minhas férias em "Nowhereville", onde a coca-cola sempre está gelada, o brigadeiro nunca acaba, sempre tem algum filme bom pra eu assistir, e a música que toca sempre é a minha favorita.

Mas sabe como é, né...A gente se mata de trabalhar, estudar, sofrer na tal cidade grande e não vê a hora de tirar as merecidas férias pra fugir pra algum lugar tranquilo, nossa versão particular do paraíso. E quando chegam as férias, e vamos pro tal personal-paradise, e os dias passam devagar, e enjoamos das comidas e bebidas e músicas e livros e filmes, e dormimos tudo o que tínhamos pra dormir pelos próximos 500 anos, e a porra do telefone não toca...Começamos a sentir falta da cidade grande.

No meu livro favorito do Eça de Queirós, "A Cidade e as Serras", Jacinto troca Paris por um vilarejo no meio do mato em Portugal. Acho a história linda e acredito que a mudança nos hábitos  - e na personalidade - da personagem causada pela mudança de ambiente não é nada intangível, não faz do livro um romance de ficção científica (pretendo falar mais desse livro aqui em breve). Pode acontecer com qualquer um. Talvez aconteça comigo um dia. Mas no livro, a tal personagem sequer sente saudades de Paris, não quer nem ouvir falar, nem visitar, nada. Isso, acho pouco provável. Por mais que a calmaria, a paz, a quietude de onde estou agora me façam bem, sinto falta do barulho, da bagunça, do superego descontrol, do Katrina emocional onde nasci e me criei.

E é por isso que tô voltando pra mim. Com uma ou outra mudança (já que sempre voltamos diferentes das férias), com o feeling do "agora vai!" e com uma lista de planos que talvez nunca se realizem. Só o "bronzeado" é que fiquei devendo. É que fora de mim também não faz sol.