sexta-feira, 12 de julho de 2013

Me come!

Art by Giovanna Casotto
"Perdão por ser tão direto, logo eu que curto uns arrodeios no verbo, mas a hora mais comovente de um homem é quando a moça, enredada nas preliminares e nos dengos orais, nos puxa e ordena: 'Me come!'
Hora sagrada, pedido que justifica estar no mundo, um pára-tudo na vida besta, um sentido para a dramaturgia terrena, uma viagem sideral com  Barbarella, uma pausa que move o planeta, rotação e translação, formigas nas nervuras das folhas das folhas da relva.
'Me come!', ela diz, ela prescreve o gozo, o ossinho, digo, o ilíaco perfura nuvens do arranha-céus na janela, você é feito homem de novo na hora, Adão reloaded, costela bíblica no bafo.
O milagre, o projeto levanta-te Lázaro, você que se julgava morto depois de uma antologia de ressacas e invertidas do varejão Ceasa da existência.
O “me come” é o fiat lux, o Gênesis –tanto o bíblico quanto o do Crumb. O 'me come' é o chamado capaz de ressuscitar um zumbi, um morto-vivo, um fantasma de homem.
O 'me come' é sinfonia, é Frank Zappa com gritos & sussurros, é música ao longe, é onomatopeia do pre-gozo de Serge Gainsbourg e Jane Birkin…
'Me come' que sou tua, mesmo que por um momento, e vamos fazer dessa noite a noite mais linda do mundo, como recomenda o Odair, o gênio do cancioneiro romântico.
É o decifra-me ou te devoro, é o mantra mais sagrado até mesmo para um inapetente faquir de mulheres, é o incêndio da hora, todos los fuegos, o fogo, como no livro do homenzarrão Cortázar que tanto excita a falsa-magra do Catete.
Perdão por ir tão ao ponto, caro leitor mais correto, mas o 'me come', seja homem, é o chamado da selva, a psicanálise selvagem depois de línguas e dedos, o grande cartaz da passeata, a redenção, você sai às ruas feliz com o cheiro dela na barba, você sai chutando as tampinhas da realidade para dentro dos bueiros, você mira com cara de safado a morena-Jolie de Botafogo, você desce na estação Cantagalo -ai de mim, Copacabana!-, ainda com aquele 'me come' a encobrir o barulho das britadeiras da cidade maquiada da beleza e do caos."

 

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