Pago pau fortemente pra essa loira do vídeo. Não só porque é LINDA, mas porque se diverte horrores. Tá, ela é cheia de hematoma (sinal de uma vida bem "agitada"), cheira, bebe pra caralho, vomita, arruma briga no bar, mija na rua, furta bebidas, beija desconhecidos...Colocar tudo isso no conceito "diversão" é discutível, eu sei. Mas é uma puta noitada, admitam. E foda-se, em idos de 2006 quando esse clipe passava direto na MTV, eu queria muito ser ela.
E a gargalhada no final? AMO.
Não pesquisei direeeeito pra saber quem é a loira-country-girl, mas pelo o que pude apurar, ela é a atriz sueca (sempre suecas!) Helena Mattson.
Todos aqueles acasos infelizes da nossa vida, em que fomos, ou ridículos, ou reles, ou atrasados, consideremo-los, à luz da nossa serenidade íntima, como incómodos de viagem. Neste mundo, viajantes, voluntários ou involuntários, entre nada e nada ou entre tudo e tudo, somos somente passageiros, que não devem dar demasiado vulto aos percalços do percurso, às contundências da trajetória. Consolo-me com isto, não sei se porque me consolo, se porque há nisto que me console. Mas a consolação fictícia torna-se-me verdade se não penso nela. [...]"
(Livro do Desassossego, pág. 403)
Fernando Pessoa é um dos meus escritores favoritos, junto com Machado de Assis, José Saramago e Gabriel García Márquez. Esse livro é um dos meus favoritos, e costumo usá-lo como oráculo. Lembram daquele livrinho "Minutos de Sabedoria", com pensamentos e reflexões, que a gente abria em qualquer página e lia em busca de um conselho pra algum momento tenso? Pois é, o "Livro do Desassossego" é usado por mim da mesma forma. Abri hoje à tarde pra ver o que ele tinha pra me dizer e...Foi nessa página que abri.
Esse livro reúne fragmentos de texto do Pessoa, ou melhor, do heterônimo Bernardo Soares, e indicam que o autor tinha o hábito de anotar ideias, epifanias, reflexões, pra melhor trabalhá-las depois. Meu xodó literário, que ganhei quando fui à Festa do Livro da USP, em dezembro do ano passado.
Mimos da Feira do Livro da USP
Só pra testar a sintonia do Livro do Desassossego com a minha personal vibe, abri de novo numa página qualquer e:
"134.
Busco-me e não me encontro. Pertenço a horas crisântemos, nítidas em alongamentos de jarros. Deus fez da minha alma uma coisa decorativa. Não sei que detalhes demasiadamente pomposos e escolhidos definem o feitio do meu espírito. O meu amor ao ornamental é sem dúvida porque sinto nele qualquer coisa de idêntico à substância da minha alma."
Viram? É por essas e outras que Fernando Pessoa é foda.
Logo, logo chega o Dia dos Namorados, e enquanto tem gente que vai gastar uma grana com presente e depois ainda encarar um jantar romântico + fila no motel por um quarto com hidro, eu...Bem, vejamos...Dia 12 de junho cai numa quarta-feira, certo, produção?...Então, vou trabalhar. E se ainda não estiver de férias da faculdade, vou pra aula de Direito Processual do Trabalho (que odeio com todas as forças do meu ser).
Mas sou romântica. Como a personagem da Mila Kunis no filme "Amizade Colorida" (tava revendo esse filme ontem, por isso tô usando como exemplo), às vezes queria que a vida fosse como nos filmes de amor: demonstrações públicas (e cafonas) de afeto, as pessoas simplesmente abrindo o jogo e dizendo o que sentem, sem todo esse protecionismo sentimental babaca, esses joguetes que odeio tanto porque não sei jogar. O amor existe, porra! Pode não acontecer pra mim pra algumas pessoas, mas existe! Por isso escrevem sobre ele, fazem filmes sobre ele, cantam sobre ele. E aí me veio a ideia do Top 5.
Essas 5 músicas foram escritas por homens que estiveram ou estavam apaixonados quando as escreveram. E, na boa? Esse é o tipo de coisa que você não cria se nunca sentiu, se não sabe como é. Não seria composta por encomenda, ou porque o disco precisava de um nº X de faixas e tinha que entrar qualquer coisa no lugar. Os caras amaram ou tavam amando-muito-por-demais. E precisavam dizer, precisavam que elas soubessem, que o mundo soubesse. E isso é FODA LINDO.
Foi então que incorporei o Rob do livro/filme "Alta Fidelidade" e resolvi fazer um Top 5 das músicas que são as declarações de amor mais lindas que já ouvi. E, claro, que eu queria que fossem dedicadas pra mim, e que acredito que muita mulher por aí borraria o rímel com uma homenagem dessas. Numa época em que as mulheres acham que romântico é o Roberto Carlos cantando "Esse cara sou eu", um post desse é quase um serviço de utilidade pública.
Então, como diria Goulart de Andrade, vem comigo:
5. Ain't no Sunshine (When She's Gone) - Bill Withers
Durante minhas pesquisas, descobri que o Bill Withers foi inspirado por um filme chamado "Days of Wine and Roses", história triste de um casal que vive um triângulo amoroso: o marido, a esposa e o álcool. Bill disse que "às vezes, sentimos falta de coisas que não foram particularmente boas pra nós", e que foi algo que passou pela cabeça dele enquanto assistia ao filme, "e provavelmente algo mais que aconteceu na minha vida e que eu ainda não havia me dado conta". Vai ver era alguma ferida amorosa cicatrizada que deu uma descascada vendo o filme, né, Bill?
Trecho pra chorar: "Ain't no sunshine when she's gone/ Only darkness everyday/ Ain't no sunshine when she's gone/ And this house just ain't no home/ Anytime she goes away"
4. She - Elvis Costello
Escolhi essa versão - regravação de 1999, e que aparece na trilha sonora do filme "Notting Hill" - porque gosto mais do Elvis Costello que do intérprete original. Composta por Herbert Kretzmer em parceria com Charles Aznavour, e feita pra ser tema de uma série de TV britânica, embora com um propósito específico, a música fala da mulher aos olhos do homem que a ama. E quando perguntaram pro Aznavour de onde ele tirou inspiração pra música, ele respondeu "da vida". E completou: "Busco retratar as almas humanas. Não crio pessoas ou problemas pras minhas músicas". Se tinha uma musa inspiradora, certamente ela se rendeu aos seus encantos, Charlie.
Trecho pra chorar: "Me I'll take her laughter and her tears/ And make them all my souvenirs/ For where she goes I've got to be/ The meaning of my life is...she"
3. My love - Paul McCartney
Sou suspeita pra falar do Paul. AMO MUITO. E ele é um cara inspirado: já fez música até pra cachorro. Mas falar de amor é algo que ele manja muito, e a musa inspiradora dele foi uma mulher muito muito muito feliz com tantas homenagens lindas. Não vou precisar falar da música porque ele mesmo vai dizer - e em português! ♥ - pra quem ele fez.
"Eu escrevi essa música para minha gatchinha Linda!"
Trecho pra chorar: "Don't ever ask me why/ I never say goodbye to my love/ It's understood/ It's everywhere with my love/ And my love does it good" 2. Something - George Harrison
Considerada uma das músicas mais lindas dos Beatles - ninguém menos que Frank Sinatra se referiu a ela como sendo "a melhor canção de amor dos últimos 50 anos" - foi composta pelo George Harrison, na época casado com Pattie Boyd. Ele disse que não foi pra ela que ele fez, ela disse que ele disse que foi...Não sei, não sei. O fato é que é uma música lindíssima, e que depois (e talvez em razão disso ele negue ter escrito a música pra ela) o cara perdeu a mulher pro amigo, amigo que também é músico e que compôs, tendo como inspiração a mesma mulher, a música nº 1 do meu Top 5. Pattie Boyd, you lucky bitch...
Trecho pra chorar: "Something in the way she knows/ And all I have to do is think of her/ Something in the things she shows me/ I don't want to leave her now/ You know I believe and how" 1. Wonderful Tonight - Eric Clapton
Sei nem o que
dizer sobre essa que é uma das músicas mais lindas que já ouvi na vida. Eric compôs essa música enquanto esperava Pattie Boyd se arrumar pruma festa organizada pelo casal da música nº 3, Paul e
Linda. Lembrando que Pattie se separou do compositor da música nº2, George Harrison, pra ficar com o Eric, e que os dois, Eric e George, continuaram sendo amigos depois do que houve.
Trecho
pra chorar: "I feel wonderful, because I see/ The love light in your
eyes/ And the wonder of it all/ Is that you just don't realize/ How much
I love you"
E é isso. Listas são sempre polêmicas, então tenho certeza que tem quem discorde, quem ache que tem música muito mais bonita que ficou de fora, que fui injusta na ordem em que organizei a lista, quem prefira Thiaguinho cantando "Eu sou o cara pra você". Mas a ideia aqui é inspirar: se tá apaixonado(a) e tá com a pessoa que te faz feliz, diga, MOSTRE sempre que tiver chance. Tão aí algumas dicas e não precisa de um dia no ano pra fazer isso.
É amor platônico? DECLARE-SE. Você nunca vai saber se não tentar.
Li em algum lugar que sabemos que estamos apaixonados quando as canções de amor passam a fazer sentido pra nós. Que esse seja o caso de você que está lendo isso agora. E se não for, que ao menos as histórias das canções (e livros, e filmes...) sirvam de alento até que chegue o momento. Pra não perder a fé. É pra isso que elas tem servido pra mim, pelo menos.
Tava vendo o clipe novo da dupla She & Him - fofinho como sempre - e lembrei que eles fizeram um versão de uma música que sempre achei bonitinha: "Baby, it's cold outside".
Procurando no Youtube os vídeos pra postar aqui, vi que muita gente já cantou essa música, mas a versão que eu conheci foi a do Ray Charles cantando com a Betty Carter.
Tá, não é só porque acho bonitinha toda essa história da mocinha sozinha com o namorado na casa dele, tentando se despedir enquanto ele tenta convencê-la a ficar um pouco mais. Vai parecer bem besta o que vou dizer, mas tem um trecho dessa música que sempre me faz rir: é a hora que a Betty canta: "baby, can't you seeeee". Porra, o Ray era cego, claro que ele não ia conseguir ver. Falei que era bem besta...
Não sei ainda o que acho da voz da Zooey Deschanel. Como eu falei, tudo o que a dupla faz é bem cute, mas...A voz dela...sei lá. Qualquer dia falo mais dela e do trabalho da dupla aqui. Por enquanto, fiquem com a versão do She & Him pra "Baby, I'ts Cold Outside":
Enquanto não decido se encerro o blog, se saio da faculdade e viro revendedora Jequiti, se assalto um banco e fujo pra alguma ilha paradisíaca, vou postando pequenas coisas que tornam minha vida menos miserável. A de hoje é a nova versão de um clássico FODA do Creedence Clearwater Revival. Fiquei sabendo pelo Twitter da Rolling Stone gringa que o John Forgety se juntou com alguns artistas pra gravação de um álbum, "Wrote a Song for Everyone", que sai agora no fim do mês. E adivinhem quem tá entre os colaboradores do álbum? O Foo Fighterrrrssssss!!! ♥
Mas o mais legal é que Forgety convidou Grohl e companhia pra dar cara nova pra uma das melhores músicas do CCR: Fortunate Son!
Já era foda, certo? Escutem só como ficou:
Bom demais, fala sério... Pra quem quiser ler a notícia no site da Rolling Stone, o link tá aqui. E pra quem quiser ouvir essa nova versão de "Fortunate Son" em estúdio, o link tá aqui.
Dave Grohl lindo sempre fazendo a alegria da gente. Love you, Dave! ♥
Ele, de novo. Caio F. tem me acompanhado há uns dias. Separei algumas passagens do livro que reúne cartas enviadas pelo escritor para amigos, amantes, parentes.
Qualquer semelhança com my fucked up wayof lifenão é mera coincidência.
Sobre rejeição:
"[...] Tivemos um dia lindo — com direito a sauna Nikkei e massagem (Akira sapateou em cima de mim, me virou para a esquerda e para o avesso). Jantamos num japa, saímos duas xuxas para ver Drácula. E então, em casa, ele me rejeitou mais uma vez. Me adora, morre de carinho & respeito & admiração. Mas: SEXO NÃO. Eu fiquei chorando no escuro, enquanto ele decidia dormir na sala. Eu fiquei olhando aquelas estrelinhas no céu do quarto, sem entender nada. Tive vontade de ir de mansinho até a cozinha e abrir o gás. Talvez matá-lo também? Tive vontade de pegar uma faca na cozinha e enfiar no coração dele, depois no meu. Tive vontades Maria Bethânia, vontades Maysa, vontades Fassbinder — teatrais, melodramáticas. Me limitei a escovar os dentes, me masturbar pensando nele, e dormir.[...]
[...] Então um lado meu pensa: é sina, é fado, é destino, é maldição. Outro lado pensa: não, é mera neurose, de alguma forma sutil devo construir elaboradamente essa rejeição. Crio a situação, e ouço um não. Desta vez, eu tinha tanta certeza. E penso: os deuses me traíram, os búzios me atraiçoaram, as cartas me mentiram. E me sinto velho e cansado, e tiro toda a roupa preta guardada nos armários — e tudo não deixa de ser teatral, meio engraçado. Mas há também uma dorzinha verdadeira no fundo. A pequena gota de sangue, como um rubi. E me baixa o peso do tempo, e dos meus 38 anos, e dos cabelos caindo, e de tudo indo embora e fugindo e se perdendo — e o amor sem acontecer, quando estou assim todo maduro, e limpo, e pronto, e luminoso como uma maçã no galho, pronta para ser colhida. Ninguém estende a mão para a maçã, pouco antes de começar o processo de apodrecimento.[...]
[...] E penso: sou feio, então, sou desagradável, é isso, é isso — é só isso, sou incapaz de inspirar qualquer erotismo em alguém. Fico me ferindo, mas também dou voltas e penso: não, não é nada disso, sou legal, sou mansinho, sou até bonitinho. E penso tantas e tantas outras coisas, mas o real não se modifica. E o real, parece meio grosso dito assim, mas no fundo é isso mesmo — o real é: R. não quer trepar comigo de jeito nenhum. Como dói."
Sobre a solidão/ o amor:
" [...]Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como “eu gosto de você”. Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida — como quem olha de uma janela — mas não consegue vivê-la."
""[...] A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando. Nem sempre é horrível. As vezes é até bem mansinha. Mas sinto tão estranhamente que amor acabou. [.. .] Repito sempre: sossega, sossega — o amor não é para o teu bico."
Sobre expectativas x o tempo:
"[...]Mas tão, tão modesto. Assim, sa’s, uma PUTA expectativa cercada por todos os lados de desilusão. Que nem calda de chocolate em bolo. Só a casquinha. Já não dói muito. Assisto como a um filme onde só por acaso sou personagem. Tenho lembrado demais deste poema de Adélia Prado:
'quarenta anos não quero a faca nem o queijo quero a fome.' Porque é um pouco assim que a gente vai ficando, pura expectativa há anos (muitos) não satisfeita. De repente, você começa a ponderar se não será assim mesmo o jeito das coisas, o jeito “certo” delas, por mais que pareça errado. Melancólico? Não sei bem. Talvez seja o jeito das coisas, só isso. Chega-se no zen? Ou esse apenas o lado mais artístico de uma solidão quase tão grande quanto a daquelas velhas tias solteironas, que ao invés de escreverem ficção faziam docinhos, bordavam toalhinhas? Coisas assim. Que seja doce — repetem os dragões. Que seja doce, e será.[...]"
E são muitas as passagens, e muitos os risos, e muitas - e dolorosas - as coincidências. Os medos. As dúvidas. "Queria consultar búzios, runas, pai, mãe, de santo ou não, qualquer coisa que me APONTASSE O RUMO, caralho". Eu também, Caio. Eu também.
Esse livro e outras obras do Caio Fernando Abreu pra download você encontra nesse site aqui.
"You know, the day I did it, I took two razorblades to the bathtub. You know why? Because I knew that once I started to bleed, I'd get weak. And I didn't wanna drop one blade and leave myself half done. Can you imagine that? Can you imagine hating your life so much that you'd wanna bring a backup razor?"
Falaria mais sobre o filme, sobre suicídio, sobre lâminas e dores e desistências e histórias que se repetem sem que a gente possa mudar o final infeliz. Mas é tarde, está tarde.
Pra quem quiser, a ficha técnica do filme - belíssimo filme, diga-se - tá aqui.