domingo, 5 de maio de 2013

Doida demais


Sou doida. Maluca. Estranha.
Já me chamaram de tanta coisa...
E na boa? Todo mundo tem razão.

Eu falo sozinha. Mas não é o falar sozinha "normal" (oi?), é me imaginar falando com alguém (a companhia varia) e imaginar a pessoa respondendo, me perguntando coisas, interagindo. Sério.
Sei lá, podem achar que é sintoma de solidão, que sou tão sozinha-solitária-forever-alone que, do alto dos meus 30 anos, tenho amigos imaginários. Não é isso. Acho. De fato, às vezes passo por coisas bem fodas e não tenho com quem conversar. Mas na maioria das vezes eu prefiro falar sozinha do que com as pessoas. Vai ver é porque na minha cabeça a conversa é mais agradável, já que eu já sei as perguntas que vou fazer, as respostas que vou dar...

E é coisa que vem da infância mesmo. Contava histórias que inventava pra minha tia, pra todo mundo que quisesse escutar. Nem precisava querer, bastava tá lá dando mole que lá ia eu contar história com pônei, com a Moranguinho e tudo que fizesse parte do meu imaginário na época. Sempre fui de falar muito. Aí quando não tinha ninguém pra ouvir, eu contava pra mim mesma. Daí que deve vir essa coisa de querer contar histórias, ensinar coisas, escrever...

Enquanto me subestimo, superestimo os outros. Principalmente os caras por quem me apaixono. Acho eles o máximo, por mais fodidos que eles sejam. Vou sempre achar adjetivos, vou sempre inflar o ego deles enquanto me boto pra baixo pensando "o que um cara MA-RA-VI-LHO-SO desse tá fazendo perdendo tempo com alguém como eu?". Aí já viu: de tanto eu achar isso, e falar isso, e me comportar assim, eles caem na real e vão embora. E vou pensar sempre que a culpa foi minha, que é porque não sou atraente o bastante, inteligente o bastante, boa o bastante pra ser namorada deles. Além disso, vou passar um tempão atormentando amigos, mostrando foto das namoradas dos caras, "ela é mais bonita que eu?", "por que ele preferiu ela?", achando mil defeitos nelas, como se eu não tivesse nenhum. Ké dizê: quando tô ficando com eles, não sou boa o suficiente pra eles; mas quando eles não me querem mais, quando preferem ficar com as namoradas, imediatamente passo a ser a pessoa certa pra eles. Tipo, "COMO ELES CONSEGUEM ABRIR MÃO DE ALGUÉM TÃO LEGAL?!". Pois é...

 

São muitas as manias, as loucuras, os sintomas.

Tomo banho de óculos, durmo com bichos de pelúcia, em especial um cachorro marrom com manchas pretas, brinquedo popular dos anos 80/90, o Snif-Snif. Dormir com ele não é nada, o lance maluco é que eu cubro ele quando saio da cama de manhã pra ir trabalhar. Já podem imaginar que eu nem choro feito criança assistindo Toy Story 3, né...

História de gente maluca me fascina: gente dramática, gente desobediente, gente escandalosa. Gente que comprou briga com meio-mundo pra viver do jeito que queria, sem se importar com a opinião de ninguém. Gente que mesmo vivendo pouco, no melhor estilo "antes 10 anos a 1000 km/h que 1000 anos a 10 km/h" aproveitou muito bem o tempo que teve, viveu intensamente as alegrias, as tristezas e tudo mais que veio junto.

Não como frutas, tiro as uvas passas das granolas antes de misturar no açaí, uso sempre o mesmo par de brincos pra fazer prova, pego trem/metrô sempre no mesmo lugar da plataforma e procuro sentar sempre no mesmo banco. Outro dia, fui devolver livro na biblioteca da faculdade. Enquanto estava na fila, vi uma menina devolvendo um dos meus livros favoritos, "Da desobediência civil e outros ensaios", do Henry David Thoreau, e me mordi de ciúmes, do tipo "o que essa biscate tava fazendo com meu livro?!" de ciúmes. Difícil...

Peguei o buquê no último casamento em que fui. Já viu: todo mundo dizendo que serei a próxima. 

Não dou muita importância pra quem fala que, no momento certo, vai aparecer a pessoa certa pra mim. Viu a bucha que a tal "pessoa certa" vai ter que segurar? É exigir muito de alguém. Esperar por esse príncipe encantado que não tem medo de gente doida, na minha idade, é ser otimista além da conta.

Já falei aqui: sou a personificação do excesso. E isso me rendeu - e rende - muitas decepções ao longo do caminho.

Anda do meu lado quem aguenta os rompantes de raiva e carência, quem não se importa com a avalanche de reclamações, quem não tem medo da metamorfose ambulante, do choro com e, principalmente, sem motivo, dos exageros, das manias, do ciúme, das cobranças. Por isso são tão poucos: é tarefa hercúlea.

Já tive inveja de gente "normal". Ainda tenho, às vezes. Mas já não sei me portar de outro jeito. Vez ou outra aparece gente na minha vida que até vale o esforço, mas o meu normal é tão fake, tão made in paraguay, que o encanto dura pouco e a pessoa foge assim que percebe a roubada em que se meteu. "Não é você, sou eu...". Ahã. Tá.

São muitos os nomes que me dão. Erasmo de Roterdã até já escreveu um livro sobre a minha "enfermidade". E é normal que cause estranheza, que rejeitem, que evitem, que fujam. "My reality is just different from yours". Mas quer saber? Mesmo com toda a angústia e a solidão advindas da incompreensão, mesmo com toda a dor e a tristeza oriundas da rejeição, ser maluca tem suas vantagens. A principal - e a que eu mais gosto - é que ninguém ousa nos contrariar. ;-)


"Os nossos planos são absurdos
Tipo gritar no ouvido dos surdos
Mas todo mundo que é genial
Nunca é descrito como norma
l"

 

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