segunda-feira, 25 de abril de 2011

Fala que eu (finjo que) te escuto

Essa mania que nêgo tem de viver reclamando da vida é foda.
Reclamo da vida, falo da falta de trampo, de grana. Falo do que me irrita na faculdade, na vizinhança, em casa. E geralmente ouço reclamação numa boa também, justamente por achar que faz sentido ouvir quem me ouve. Mas tem gente...
Antes de entrar em detalhes, quero registrar aqui o quanto odeio a expressão "tem gente". Fica aquele clima de "Indiretas já", aquela coisa de querer apontar falha no outro sem dar nome aos bois. Péssimo. Mas é que nesse caso se trata de "gente" mesmo, não é uma pessoa só que faz isso. Assim, que a carapuça sirva em quem se habilitar a experimentá-la e pronto.
Voltando ao lance das reclamações: sim, tem gente que extrapola. Fica parecendo que a vida da pessoa é um mar de merda, que nada dá certo nunca, que o mundo inteiro a odeia...Caveira de burro enterrada embaixo da casa dela, só pode. Um poltergeist-zombeteiro-brabo cujo maior entretenimento é sacaneá-la de todas as formas possíveis. Aí você quer ser legal e pergunta "E aí? Tudo bem contigo?" e a pessoa dispara: "NÃO! Minha tia-avó teve uma reação alérgica a um sarapatel e tá no hospital, tirei nota baixa na prova, meu hamster morreu e meu casinho com quem tô saindo há 3 dias não atende o celular! Quero desabafar com alguém, mas ninguém me ouve!". E ai de você se tentar minimizar o que houve, se disser que vai passar, se pedir calma. "Você acha pouca coisa o que aconteceu? Queria ver se fosse SUA tia-avó, SEU hamster!" e por aí vai. E o pior não é nem isso de você querer ser gentil se submetendo a essa sessão de desabafo/tortura e ser esculachado. O pior é saber que vai ser SEMPRE assim. Os problemas da pessoa sempre serão maiores que os seus. E mais: ela nunca estará disponível ou terá paciência pra te ouvir. Vira uma via de mão única de desabafo interminável, pra qual você sempre terá que estar disponível sob pena de ser considerado(a) péssimo(a) amigo(a), insensível, sem coração e blah blah blah.
E joga na cara: "Quando você levou aquele pé-na-bunda e só falava disso, EEEEU fiquei te ouvindo!" quando, na verdade, o diálogo foi mais ou menos assim:

- Nossa, ainda não tô acreditando que ele fez isso comigo. E hoje fez 1 ano que a gente se conheceu...Amanheci pensando nele, uma saudaaade...
- É...foda isso. Sei como é. Entra nesse site e olha as bolsas! Qual você acha mais bonita: a de estampa floral ou a de caveiras?

Acredite: não vai mudar. Essa pessoa sempre sofrerá de uma espécie de "déficit de atenção" pra ouvir suas lamúrias. E sempre reclamará de VOCÊ quando seus problemas estiverem ocupando demais seus pensamentos a ponto de você não querer ouvi-la. Em suma, não tem nada do que essa pessoa não reclame. E quando não tem, pode deixar que ela arruma:

- Oi! Tudo bem?
- Não. Tô me sentindo...triste.
- Mas o que houve?
- Sei lá. Tô me sentindo feia hoje.

E não é TPM, não é falta de sexo, não é frescurinha de menina. A pessoa quer atenção. Quer alguém que fique dizendo pra ela não ficar assim que tudo vai dar certo, que ela tem pessoas que a amam muito, que ela é linda...Essas merdas. Quando na verdade, PROBLEMA pra mim é mais do que estar se sentindo triste porque tá se achando feia, ou porque seu casinho de 3 fodas não atende o celular pra ouvir seus ataques de "forever alone". Aí você pode dizer que o conceito de problema é subjetivo, ou que o tamanho/importância do problema é relativo. Que seja. Mas se é assim, pelo menos que haja reciprocidade. Eu te ouço se você me ouvir. Do contrário, eu finjo que te escuto enquanto como chocolate e leio Leminski. "Fica assim, não. Tudo vai dar certo, você vai ver!" e vou pra cama pensando no quanto o cd novo do Foo Fighters é foda.


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